quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O ódio ao Lucro e a Pobreza Nacional

São inúmeros os teóricos a tentar responder uma simples questão: Por que um país imenso, de subsolo rico, vastas terras agricultáveis, sem conflitos internos (de ordem étnica nem religiosa) nem externos, insujeito a intempéries climáticas e enorme potencial energético não consegue se libertar dos grilhões do atraso? Como podemos ocupar a 69ª posição no ranking do IDH, logo atrás da potência que atende pelo nome de República Dominicana? Como podem estar os hermanos argentinos 35 posições a frente de nós, neste ranking da ONU?

De Sérgio Buarque de Holanda (com o homem cordial) a Fernando Henrique Cardoso (com a teoria de centro e da periferia), passando por Gilberto Freyre e Paulo Prado, todos são unânimes: a causa do nosso vexame encontra-se do lado de fora das fronteiras. São todos cúmplices do pensamento comum verde e amarelo que culpa, entre outros, a colonização de exploração, o imperialismo norte-americano, as multinacionais, a dívida externa, o FMI etc. Assim sendo, ficamos todos em paz para dormir à noite. A culpa é dos outros. Somos vítimas da maldade além-mar. Pobres brasileiros criados por Deus para ser explorados, hora pela Europa, hora pela potência guerreira do norte.

É uma pena constatar que as idéias reconfortantes da culpabilidade alheia não resistam ao menor questionamento socrático, nem encontrem o menor paralelo com a realidade histórica. Se somos pobres e atrasados porque fomos colônia de exploração há 500 anos, como explicar a Alemanha e o Japão - que há pouco mais de 50 anos foram "colônias de destruição", durante a segunda guerra mundial - e hoje somam o segundo e o terceiro PIBs do planeta? Se a causa do nosso infortúnio são os Estados Unidos com suas multinacionais usurpadoras de riqueza, por que São Paulo - estado onde mais este tipo de empresa está presente - é o estado mais rico e não o mais pobre do Brasil? Por que não são a Paraíba ou o Piauí - lugares onde estas vampiras quase não fincam seus caninos sedentos - antros de prosperidade e de pujança nacional? Se o problema é a dívida externa ou o FMI, por que não passamos direto para o primeiro mundo quando Sarney decretou a moratória? Por que a Argentina - dona do maior calote internacional da história - não se encontra agora ombro a ombro com a Europa? Por que mesmo sem dever um centavo ao FMI, temos que rezar todos os dias para que o Haiti permaneça em guerra civil e assim o ocupemos a penúltima posição, e não a rabeira, no ranking de crescimento do PIB em todo o continente americano, do Alasca à Patagônia?

Culpar os outros, além de não resolver nossos problemas nem fazer justiça histórica, só nos faz perder o foco. Muito mais produtivo - apesar de doloroso - é enxergar o óbvio: a origem nosso atraso está no lado de cá - e não no de lá - das nossas fronteiras. Crescer exige três pré-requisitos: educação; poupança interna e ambiente propício ao investimento. Tanto aqui quanto na China. Não temos nenhum dos três. E o motivo de tudo reside num detalhe do primeiro pré-requisito.

Desde cedo, fomos educados a ter ódio ao lucro. Seja nos bancos das escolas ou das igrejas, aprendemos que lucrar é sinônimo de roubar, de enganar, de levar vantagem, de ser "esperto". Lucrar no Brasil é, portanto, o oitavo pecado capital. "É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus". O gene do ódio ao lucro está incrustado no DNA brasileiro. Passa de pai para filho. A verdade é que odiamos todos os tipos de lucro: o lucro dos bancos; das multinacionais; das empresas de saúde; das empresas farmacêuticas; dos estacionamentos dos shoppings; dos supermercados; da quitanda da esquina... Pensando bem, a vida era mais feliz quando não havia cartões de crédito, nem coca-cola, nem unimeds ou antibióticos. Vida boa era a de comprar roupa no centro da cidade e comida nas feiras livres. Tão boa essa vida que recomendo fortemente a todos que assim desejam viver, tornem isto realidade. Não alimentem os lucros destes ladrões. Rasguem seus cheques, não lanchem no Mc donald´s, não utilizem remédios e deixem seus carros em casa.

As pessoas que têm como função gerar lucros (empresários) não poderiam ter por aqui melhor sorte: são vistas como ladrões, enganadores de consumidores desavisados e trabalhadores indefesos.

Nossas mães nos querem médicos, advogados, dentistas, professores. Empresário, nunca. Na cabeça dos nossos intelectuais, riqueza é algo que o mais forte ROUBA do mais fraco e não algo que se PRODUZA. Para eles, entre 1 quilo de uvas de R$1,00 e uma garrafa de vinho que custe R$ 100,00 não se produziram R$99,00 de riqueza. De forma alguma. No ideário nativo, algum consumidor otário perdeu R$ 99,00 ao comprar o rótulo; algum trabalhador foi explorado e algum empresário "esperto" ganhou R$ 99,00. Pobre país onde quem gera emprego, investe e paga impostos é visto por este prisma.

Enquanto o gene do ódio ao lucro permanecer ativo e determinando, de maneira mais ou menos inconsciente, nossos atos, nunca haverá poupança interna, tampouco ambiente propício ao investimento. De onde irão se acumular recursos para aumentar a poupança interna, se o lucro é execrável? De onde sairá o dinheiro para ampliação de vagas de trabalho? De onde sai a verba para pesquisa de novos componentes? De onde sai o dinheiro necessário para aumentar a produção? O brasileiro precisaria entender que o ódio ao lucro é uma declaração de amor à pobreza. Nossa ira contra as empresas lucrativas é nosso apego às empresas falidas. Só posso entender que brasileiro gosta mesmo é de empresa que demite. De empresa que não tem como investir em pesquisas nem em aumento de produção. Essas são as boas empresas nacionais. Não é por outro motivo que amamos nossas estatais - empresas criadas para dar empregos para os amigos, negócios para os padrinhos e prejuízos para a nação. A estatal é a felicidade do brasileiro. Quanto mais o Estado cuida de entregar cartas, emitir talões de cheque e cavar poços de petróleo, mais amaremos esta terra. Que se dane educação, saúde, segurança e justiça. Aqui governo não precisa se preocupar com isto. Se sobrar algum dinheiro para investimentos, para que melhorar uma escola? Para que um novo hospital? Para que outro fórum? Usemos este dinheiro para uma nova agência dos correios, ou quem sabe, outro posto de gasolina.

Com este ódio latente, toda nossa legislação foi construída. Meticulosamente planejada para não permitir o pecado em terras tupiniquins. Leis, decretos, regulamentações em quanto maior número, melhor. Carimbos, certidões negativas, cartórios, bombeiros, autorizações, assinaturas. Qual a filosofia por trás de toda essa burocracia, que não seja a de impedir e inviabilizar o lucro? E se algum empresário-herói consegue suplantar tudo isso e obter alguma margem de vergonhoso lucro, logo serão produzidos mais impostos, taxas, contribuições, vinculações e fundos. Assim sendo, tudo volta ao status quo. Ninguém lucra, ninguém investe, ninguém emprega e todos vivemos felizes no paraíso, cada vez mais distantes do oitavo pecado capital e mais próximos do Haiti.


José Melcíades Brito

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto Melcíades

Anônimo disse...

Excelente texto.
Merece divulgação.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog em geral e por este artigo em particular!

Gostaria de convidá-los (a todos que produzem este blog) para conhecer mais pessoas que pensam como vocês.

Estamos formando o Partido Libertário!

Convido-os a visitar o site
www.pliber.org
e a se juntarem a esse movimento em prol da liberdade!

(só uma crítica - é difícil postar comentários numa página em dinamarquês(?)....)

Abraços
Geraldo Boz Junior
de Curitiba
gbozjr@gmail.com

Anônimo disse...

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