sexta-feira, 30 de abril de 2010

Do Blog do Noblat

Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
30.4.2010
| 16h46m
ARTIGO

Os descalços

O presidente Lula, dia desses, declarou que já deu ordem ao seu pessoal: se algum Serviço de Imigração, em qualquer parte do mundo, exigir que uma autoridade brasileira fique descalça para entrar naquele território, o brasileiro que dê meio volta e tome o caminho de casa.

Falou e disse, o nosso bravo presidente. É verdade que parecia meio invocado quando fez essa declaração, mas como palavra de rei não volta atrás, nossos ministros, os verdadeiros e os genéricos, já sabem: descalços, só aqui no recesso de nossa pátria. Onde é que já se viu brasileiro se humilhar diante de estrangeiro?

Como ultimamente ele aparenta estar sempre invocado, estou confiante que ele vai disparar um telefonema para a Revista Time, outro para o Michael Moore e um recado, encarapitado em algum palanque, que não vai permitir, de modo algum, vibrações, palmas e olés por ter sido citado numa revista cuja história se confunde com a do capitalismo mais selvagem.

A Time nasceu em 2 de março de 1923 e seus fundadores foram Briton Hadden e Henry Luce; foi o primeiro semanário noticioso nos EUA. Hadden morreu em 1929, Luce se tornou a figura dominante na revista e na história da mídia no século 20.

Quando Henry Luce morreu, em 1967, suas ações da Time Inc. valiam US$109 milhões e lhe rendiam um dividendo anual de mais de US$2.4 milhões, de acordo com o livro “O Mundo da Time. Inc: A História Privada de uma Empresa em Mutação”, de Curtis Prendergast. Em 1989, a Time. Inc e a Warner Communications se fundiram formando a Time Warner, que, creio eu, não precisa ser apresentada a ninguém.

A Revista Time ficou muito conhecida por uma de suas características mais originais: a escolha do “Homem do Ano”, quer dizer, a figura na capa do primeiro exemplar de um novo ano. O que não quer dizer que tenham sido, todas, figuras de mérito. Alguns exemplos: em 1937, Wallis Simpson, a futura Duquesa de Windsor; em 1938, Chiang Kai Chek e Senhora; e em 1939, ninguém menos que Adolf Hitler. Joseph Stalin também foi um “Homem do Ano”...

Na verdade, ser a capa só significava o reconhecimento, pela revista, de que aquela figura fora a que tivera maior influência no noticiário do ano anterior. Tanto é assim que em 3 de janeiro de 1983 a capa foi um PC, reconhecido como “Máquina do Ano”. Em 1989, a capa foi a Terra em Perigo, nomeada “Planeta do Ano”.

Em 1999, a revista marcou um gol de placa: Albert Einstein foi escolhido a “Pessoa do Século”. A essa altura, não eram mais chamados de “Homem do Ano” e sim, por conta do politicamente correto, “Pessoa do Ano”.

Nesse mesmo ano a revista criou a Time 100, uma lista das pessoas mais influentes ao longo do século 20. Como teve muito sucesso, os leitores adoram listas, em 2004 a revista decidiu publicar, anualmente, a relação das 100 pessoas mais influentes em todo o mundo. Estar na lista é frequentemente confundido com uma honraria; no entanto, a revista deixa muito claro que as pessoas listadas são selecionadas por mudarem o mundo, para o melhor ou para o pior. São 4 categorias: Líderes; Artistas; Pensadores; Heróis.

Segundo o site da Time consultado ontem, o que conta é o poder da influência dessas pessoas em seu meio ou no mundo. Nomes muitas vezes desconhecidos, como o bombeiro Karls Paul Noel, que saiu dos EUA e voltou para o Haiti com o objetivo de ajudar seus conterrâneos. Ou de Luiz Inácio Lula da Silva que, inegavelmente, é o homem do momento no Brasil.

O que pegou, em minha opinião, foram duas coisas. Ao bombeiro de caráter firme e muita coragem que largou uma carreira bem sucedida nos EUA e voltou para a dor e miséria em sua Port au Prince natal, deram como redator do texto que o apresenta, Rudi Giuliani... Já para o Lula, escolheram Michael Moore.

Moore é um documentarista controverso, o que é dizer pouco. Sua fama começou com o documentário sobre o massacre de estudantes dentro de um colégio em Columbine, quando dois adolescentes armados de fuzis foram responsáveis por uma carnificina. O objetivo do filme não é mostrar o horror pelo horror, mas sim um libelo contra a facilidade com que o americano compra armas. Moore mergulha na cultura do medo, da intolerância e da violência em uma nação onde possuir arma de fogo é considerado um direito do cidadão.

Estaria tudo muito bem se ele não fosse membro, com carteira e tudo, da mais que estranha National Rifle Association, poderosa organização que defende com vigor o direito ao rifle de cada um... Perguntado por Tim Russert, jornalista já falecido, o motivo dessa incoerência, ele respondeu na maior cara de pau: “Entrei de sócio porque queria ser eleito presidente da associação e acabar com ela”.

Junte-se essa resposta ao texto que ele escreveu sobre o Lula para a Time e veremos que o documentarista é daqueles que acham que só ele é esperto e que o resto do mundo é idiota. Ele queria chutar a canela do Obama e usou o Presidente do Brasil para tal.

E aí entro no segundo aspecto que acho inacreditável e vergonhoso! Ver um bando de adultos que se imaginam de esquerda vibrar com o fato do Lula estar numa lista feita por uma revista que é a mais típica representante do império ao norte do Rio Grande, ao lado de mais 99 nomes, a maioria dos quais nós nem nunca ouvimos falar, e ser apresentado por um americano raivoso que nem sequer se deu ao trabalho de ler direito a biografia do homem sobre quem falaria...

Vocês nem obedientes são... Estão todos descalços na América.

Nenhum comentário: